SOMOS TODOS RACISTAS (?)

POR RAFAEL OLIVEIRA

Nascer num país onde a sua estrutura é racista, é válido dizer que crescemos racistas.

Se, eu criança, brinquei com vários bonecos e não me lembro de ter bonecos pretos em minha coleção, então me foi imposto uma forma de racismo. Por ser criança e não ser preta, essa reflexão passou despercebida.

Programas infantis na tv apresentados só por pessoas brancas (Xuxa, Angélica, Eliana), desenhos e filmes de heróis brancos (soube do Pantera Negra adulto), princesas da Disney todas brancas (Branca de Neve, Cinderela, A bela e a fera, A bela adormecida…).

Ah! lembro-me de algo infantil que tinha duas pessoas pretas, o Sítio do Pica-Pau Amarelo, com o Saci (moleque preto, fumante, deficiente e que perturbava geral) e a Tia Nastácia (senhora preta que sempre estava na beira do fogão servindo aos brancos).

Uma das estruturas do racismo está nessas situações que citei, onde se naturalizar o ser branco como personagem em nossas vidas e por sermos crianças não refletimos e nem questionamos onde estavam os pretos que não podia ser heróis, príncipes e princesas no imaginário infantil.

Saindo do mundo imaginário infantil e entrando no real, mas não menos racista, permanecemos imóveis e intactos em não questionar essa estrutura.

Se no Brasil existe mais pretos do que brancos, o comum seria que os pretos ocupasse mais postos de empregos e que em todas as profissões os pretos fossem maioria né?

Pergunto a ti: médicos, juízes, advogados, engenheiros, professores, empresários, arquitetos em sua maioria são brancos ou pretos?

O que vemos, porem, é totalmente diferente. Os pretos ocupam, em sua maioria, as filas de desempregados e as profissões onde se tem a mão de obra mais barata desse sistema capitalista.

Portanto, se eu não questiono e nem vejo que isso é uma estrutura racista, criada desde a colonização e continuou preservada após a liberdade dos escravizados com a vinda dos imigrantes brancos e prefiro a neutralidade do que defender uma equidade para nosso povo, eu sou racista sim.

Racismo é um assunto fácil de entender e ao mesmo tempo complexo de explicar. Sugiro que leia, principalmente, autores negros. Não quero dizer que os brancos não entendem, mas é que eles não sentem ou sentiram na pele.

Saber da história do nosso país (contado por quem leva esse país nas costas, o preto), ter empatia, questionar e não aceitar a forma de opressão estrutural do sistema capitalista com o preto é um passo pra você dizer que não é racista, depois disso, o próximo nível é ser anti racista.

Autor: Ailton Rodrigues

Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).