Lagoa formada pelo volume de chuva em conjunto com a enchente das marés pode estar ameaçada de ser violada por ações humanas, IDEMA defende a vazão natural.
POR AILTON RODRIGUES NATAL/RN
Uma provável especulação sobre a abertura da Barra que protege a Lagoa do Cardeiro na cidade de São Miguel do Gostoso está movimentando as redes sociais, isso porque os nativos da cidade mobilizaram uma série de manifestações contrárias a esta ação na noite desta última terça-feira (17).
De acordo com informações colhidas pelo Contador de Causos, a cheia da lagoa estaria causando alguns transtornos para pousadeiros, donos de restaurantes e alguns moradores locais, a partir disso uma das soluções apresentadas para sanar o problema foi a abertura da barra da Lagoa do Cardeiro, que se localiza bem próxima a Praia do Cardeiro e um pouco antes da Praia Ponta do Santo Cristo.
Os moradores da cidade logo começaram a se manifestar contra o que consideram como crime ambiental. As postagens lembravam que havia mais de cinco anos que a lagoa não tinha uma cheia tão abrangente que deixava esta área da cidade com maior diversidade de espécies como caranguejos, pássaros, etc.
Veja algumas postagens:
Um dado que reforça o apelo dos moradores foi publicado pela colunista Tetsy Caroline em um texto no blog do Jornal Alô Galera, projeto apoiado pela ONG AMJUS que ajuda a cuidar do setor ambiental no município:
“A vegetação de restinga existente nas margens da Lagoa é também, por Lei, área de preservação permanente (APP), e de acordo com o Código Florestal as construções ao redor de uma APP deve ser há pelo menos 30 metros de distância contando a partir de sua margem”, disse a colunista.
PRESERVAR A LAGOA NÃO É NOVIDADE
A preservação da Lagoa do Cardeiro não é um assunto novo na cidade, já ouve outras ações que buscavam a fiscalização e manutenção do que já é considerado como uma espécie de patrimônio natural. Uma ação denominada Abraço da Lagoa, por exemplo, foi realizada em 2011 e tinha o objetivo de evitar o avanço das construções e cercas na área que abrangia a lagoa.
Outro ato foi em 2014, onde um projeto de urbanização da Lagoa do Cardeiro apresentado pela prefeitura foi derrubado pelo Comitê Orla, um espécie de órgão fiscalizador municipal, após uma série de críticas.
O QUE DIZEM ALGUNS ENVOLVIDOS
O Contador ouviu algumas pessoas, para entender o caso e ver os encaminhamentos. De acordo com Ana Marcelino, integrante do IDEMA e uma espécie de conselheira ambiental do município, a abertura da barra pode ter prejuízos:
“Já houve uma consulta ao IDEMA, não a mim. O correto é deixar que a dinâmica costeira atue naturalmente. Aquela barra já abriu outras vezes. A ocupação insistente na margem da lagoa, na APP, resulta, quando sobe o nível, em alagamentos.
A abertura de um canal poderá ter efeitos inesperados na linha de costa. Pessoalmente não sou favorável considerando o histórico e os recentes eventos extremos que mostrou uma maré forte modificando a linha de costa. Mas o correto é solicitar uma análise ambiental do IDEMA ou de especialistas em dinâmica costeira”, disse Ana ao Contador.
Ouvimos também um integrante do gabinete da prefeitura. De acordo com ele a prefeitura defende que a vazão seja natural, já que não há relatos de prejuízos e por isso “colocar máquinas ali seria um crime” [sic].
A AMJUS, a principal ONG ambiental de Gostoso, também deu um depoimento:
“Para a AMJUS a natureza deve seguir seu curso natural. Não acha um ato positivo. Em 2011 isso já era anunciado com o simbólico abraço da lagoa. Porque as pessoas do movimento já conheciam o movimento natural da lagoa. Avançaram assim mesmo”, disse Heldene Santos, membro da AMJUS.
Por último, procuramos o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Fernando Castro, que deu vários esclarecimentos, mas não descartou a possibilidade da abertura parcial da barra:
“Existem sim inúmeras reclamações e nossa obrigação é ouvir e buscar soluções! São pousadeiros, donos de restaurante e moradores locais que alegam estar com problemas devido a situação.
Contudo, a prefeitura deve se cercar de todas informações técnicas possíveis e tomar decisões acertadas. O IDEMA se manifestou que não podemos abrir a barra, mas aguardamos a Defesa Civil.
O elemento natural deve ser mantido e preservado, mas ela atingiu um nível que eu pelo menos não vi ainda e estou aqui a 11 anos (…) O nível em que a lagoa está e com a previsão de mais chuvas, certamente irá gerar problemas. Isso implica em uma elevação do lençol freático que poderá ser contaminado atingindo o nível das fossas existentes hoje. Pode causar danos estruturais as casas até o alinhamento da avenida dos arrecifes, além de colapso nas bases das cias e assim comprometer por completo o acesso ao Santo Cristo, ao Cardeiro e a Praia da Xepa.
A lagoa aflorou no ponto mais baixo, está assolapando a base do calçamento. Precisamos agir em questões voltadas a manter um nível regular, buscar uma ação de drenagem parcial!
“A lagoa está assolapando a base do calçamento”, declarou Fernando Castro (Foto: Fernando Castro).
Abrir a barra será um processo irreversível! abrirá uma cratera como jamais vista e isso pode ocorrer com uma nova chuva ou com alguém mal intencionado. Vou preparar um relatório e encaminhar a Defesa Civil, este é o procedimento, além disso, vou solicitar por escrito o parecer do IDEMA.
O que precisamos entender que a lagoa é de todos e não deve prevalecer a vontade de poucos… Logicamente também não podemos colocar em risco nosso abastecimento, pois um contaminação do lençol freático reflete no dia a dia de cada um de nós! Precisamos buscar um equilíbrio!”, disse o Secretário ao Contador.
O Contador segue acompanhando este caso. Até qualquer hora!
Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).
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