CURTAS DA MOSTRA COMPETITIVA TRAZEM BONS DOCUMENTÁRIOS E OBRAS POTIGUARES

Documentários e ficções nordestinas marcam curtas metragens selecionados para a Mostra Competitiva deste ano da Mostra de Cinema de Gostoso.

POR AILTON RODRIGUES
SÃO MIGUEL DO GOSTOSO/RN

Os curtas da Mostra Competitiva que serão exibidos na Mostra de Cinema de Gostoso terão histórias bastante interessantes e trazem dois curtas potiguares que estão sendo elogiados pelos críticos.

A grande marca destas obras são os documentários que estarão em peso nesta edição e alguns deles trazem temas polêmicos, veja nossa seleção das sinopses e curiosidades dos filmes:

BORÁ (2017)

Direção: Ângelo Defanti / 14 min / Livre

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Cena de Borá

Ironicamente incensada há 30 anos como a menor cidade do Brasil, Borá, no interior de São Paulo, perdeu seu posto em 2014 por ter crescido em 13 habitantes. O progresso que anima parte da população com sua chegada é o mesmo que preocupa outra parcela com a possibilidade de perda de tranquilidade. Em meio às fachadas de uma cidade que parece fantasma, os moradores percebem que falar sobre sua nova situação é falar sobre a passagem do tempo.

CARNEIRO DE OURO (2017)

Direção: Dácia Ibiapina / 25 min / 10 anos

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Making Off de Carneiro de Ouro

Documentário sobre Dedé Rodrigues, realizador que produz com poucos recursos no sertão do Piauí. Seus filmes atraem multidões, em especial, a trilogia “Cangaceiros Fora de Tempo”.

Dácia é professora de Audiovisual da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma instituição. Diretora e roteirista dos filmes Palestina do Norte: o Araguaia passa por aqui (1998), O chiclete e a rosa(2001), Vladimir Carvalho: conterrâneo velho de guerra(2004), Cinema Engenho (2007), Entorno da beleza (2012), O gigante nunca dorme (2013) e Ressurgentes: um filme de ação direta (2014).

Trailer de Carneiro de Ouro:

CHICO (2016)

Direção: Irmãos Carvalho / 22 min / 10 anos

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Cena de Chico

2029. Treze anos depois de um golpe de Estado no Brasil, crianças pobres, negras e faveladas são marcadas em seu nascimento com uma tornozeleira e têm suas vidas rastreadas por pressupõe-se que elas irão, mais cedo ou mais tarde, entrar para o crime. Chico é mais uma dessas crianças. No aniversário dele é aprovada a lei de ressocialização preventiva, que autoriza a prisão desses menores. O clima de festa dará espaço a uma separação dolorosa entre Chico e sua mãe, Nazaré.

Roteiristas, diretores e produtores, Marcos e Eduardo Carvalho são irmãos gêmeos e se formaram no curso de cinema da PUC-Rio, com bolsa de estudos. Moradores do Morro do Salgueiro, Rio de Janeiro, em seus filmes, eles abordam, principalmente, a vida negra nas favelas cariocas no contexto de políticas públicas de despejos, violência policial e guerras. Dentre suas obras estão Boa noite, Charles (2015) e Alegoria da Terra (2015). Pelo curta Chico receberam o Troféu Margarida de Prata 2017 da CNBB.

LENINGRADO (2017)

Direção: Dênia Cruz / 20 min / Livre

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Capa de Leningrado

A comunidade, localizada entre dois bairros da periferia de Natal (Planalto e Guarapes) surgiu como ocupação num terreno público e, como o nome sugere, possui motivações políticas alinhadas às reivindicações por uma moradia digna, acesso aos meios de transporte público (como indica o título do filme) e a busca ativa pela igualdade social.

MAMATA (2017)

Direção: Marcus Curvelo / 29 min / 12 anos

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Cena de Mamata

Aliando criatividade e senso de urgência, este curta-metragem brinca de formas muito perspicazes com as questões relativas ao golpe disferido contra a democracia no Brasil. O cineasta Marcus Curvelo, também protagonista, interpretando Joder, jovem constantemente angustiado com a situação do país, realiza um filme essencialmente engraçado, irônico, que se debruça de maneira jocosa sobre questões como a televisão, o comportamento dos endinheirados, a desilusão de quem ainda tateia o mundo tentando encontrar o seu lugar, entre outras coisas.

A habilidade narrativa é tamanha que nos pegamos rindo do sujeito reclamando da falta de dinheiro com a namorada que estuda nos Estados Unidos. No mais das vezes, é apenas Joder em cena – a exceção é a breve conversa com um colega no bar. Apropriando-se com bastante inteligência de signos pop, de materiais que acabaram viralizando na internet, Marcus faz uma reflexão sócio-política em chave cômica, bem ao gosto da nossa tradição no gênero.

Ele consegue, por exemplo, brincar com o Pato da Fiesp, e tudo de nefasto que ele representa, primeiro, mostrando sua aparição “involuntária” no programa do Luciano Huck, segundo, embalando suas “peripécias” com o hino nacional sendo entoado pela cantora Vanusa, num dos momentos apoteóticos do curta. O jogador David Luiz, o sertanejo ostentação, tudo entra nesse molho delicioso, com um timing que faz os quase 30 minutos de duração passar voando. Joder é um símbolo do Brasil, pois afrontado pelo ridículo que nos cerca cotidianamente.

MENINAS FORMICIDA (2017)

Direção: João Paulo Miranda Maria / 13 min / 14 anos

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Cena de Meninas Formicida

Em uma pequena cidade brasileira, uma adolescente trabalha todos os dias em uma floresta de eucalipto, onde ela persegue formigas com pesticidas. No entanto, sua luta interior acaba por ser a verdadeira luta.

Teaser de Meninas Formicida:

NADA (2017)

Direção: Gabriel Martins / 27 min / Livre

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Cena de Nada

Bia acaba de completar a maioridade. O final do ano se aproxima e junto dele o Enem. A escola e os pais de Bia a pressionam para que ela decida em qual curso vai se inscrever. Bia não quer fazer nada.

Diretor, roteirista, câmera e diretor de fotografia, Gabriel Martins assina filmes premiados e que foram exibidos em diversos festivais no Brasil e no exterior, como ContagemDona Sônia pediu uma arma para seu vizinho AlcidesMeu amigo mineiro e Rapsódia para o Homem Negro. Atualmente, finaliza o longa-metragem No coração do mundo, codirigido por Maurílio Martins. Seu curta Nada estreou este ano na Quinzena dos Realizadores de Cannes.

NO FIM DE TUDO (2017)

Direção: Victor Ciriaco / 15 min / 10 anos

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Cena de No Fim de Tudo.

O curta-metragem “No fim de Tudo” conta a história de uma mãe e um filho LGBT, e como uma doença degenerativa ajudou no estreitamento dos laços entre os dois.

Veja trailer de No Fim de Tudo:

O Contador continua de olho na Mostra de Cinema de Gostoso. Até qualquer hora e acompanhe nossa cobertura.

REFERÊNCIAS

http://www.setcenas.com.br/entrevistas/documentario-leningrado-linha-41-aborda-luta-pela-moradia-digna/

http://www.festivaldebrasilia.com.br/chico/

https://www.papodecinema.com.br/especiais/50-festival-de-brasilia-mostra-competitiva-de-curtas/mamata/

http://lesvalseurs.com/portfolio/meninasformicida/

http://www.festivaldebrasilia.com.br/nada/

 

Autor: Ailton Rodrigues

Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).