Nestes tempos de excesso de celebridades e de escassez de artistas, Carlos Drummond de Andrade é um vulto consistente que pontua com seu facho de luz o horizonte poético da língua portuguesa. As comemorações do Dia D de Drummond são sem sombras de dúvida um marco que ajuda a fixar a imagem do poeta e a disseminar sua obra no presente e na perspectiva das gerações futuras. “E como ficou chato ser moderno. Agora serei eterno. Eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo. Mas com tamanha intensidade que se petrifica”…
-Por Edival Lourenço
E logo após a declaração de Edival, não poderia aqui… como amante da poesia, deixar de apresentar e realizar uma pesquisa sobre o Eterno Drummond (1902-1987). Poeta, jornalista, contista, nasceu em Itabira, Minas Gerais, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro. Formou-se em Farmácia, em Belo Horizonte, e foi professor de geografia. Em 1925, fundou com outros escritores mineiros A Revista, órgão de curta duração, mas de fundamental importância no modernismo mineiro.
Apresento agora três poemas para quem não conhecem as suas obras e abaixo, link para outros poemas. BOA LEITURA!!!
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
As Sem Razões do Amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
