É ASSÉDIO, É FLERTE OU É ESCROTO?

POR FÁBIO CHAP

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Os debates da semana passada nessa distinta Rede Social se concentraram num tema importante: A diferença do flerte para o assédio.

Passei um tempo colhendo exemplos de assédios relatados pelas mulheres e escrevi um tutorial que oriente a nós, homens, a entender melhor essa fronteira entre flerte e assédio.

Nesse tutorial vou pegar exemplos do cotidiano. Dividi as conclusões em 3 categorias:

– É flerte

– É escroto

– É assédio

Vamos lá?

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Exemplo 1:

– Você mandar uma mensagem inbox dizendo:

‘Oi, linda, bela camiseta dos Beatles’

>> É flerte

– Ela ignorar esse seu inbox da camiseta dos Beatles, você ficar puto e mandar outro inbox:

‘Não vai me responder, não? tá se achando, heim?’

>> É escroto.

– Você mandar um mensagem inbox dizendo:

‘Caralho, que delícia esse biquini enfiado nesse rabetão, heim?’

>> É assédio

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Exemplo 2:

– Você vai ao dentista. A recepcionista é linda e você diz:

‘Lindo seu sorriso. Parece que aqui cuidam muito bem dos dentes mesmo. Escolhi o lugar certo.’

>> É flerte

– Você vai ao dentista. A recepcionista é linda e você diz:

‘Que linda você, heim? Não me falta coragem, me falta é sorte’

>> É escroto.

– Você vai ao dentista. A recepcionista é linda e você diz:

‘De calça branca ainda? Assim mata o papai, heim? Me passa seu Whats pra gente marcar de tomar alguma coisa… Tipo um banho’

>> É assédio.

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Exemplo 3:

– Você está no trabalho, a sua estagiária acabou de chegar com roupas de academia e está indo se trocar por roupas mais formais. Antes de ela se trocar você diz:

‘Tem que malhar mesmo. Faz bem pra saúde e a gente fica mais bonito, mais disposto.’

>> É flerte

– Você está no trabalho, a sua estagiária acabou de chegar com roupas de academia e está indo se trocar com roupas mais formais. Antes dela trocar de roupa, você diz:

‘Tem que malhar mesmo. Tá precisando perder uns quilinhos aí de barriga.

>> É escroto.

– Você está no trabalho, a sua estagiária acabou de chegar com roupas de academia e está indo se trocar com roupas mais formais. Antes de ela trocar de roupa, você diz:

‘Caramba. Podia vir assim todo dia, né? A gente nem iria trabalhar. Só ia ficar vendo você desfilar pelo corredor.’

>> É assédio.

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Exemplo 4:

– Você está num bar com os amigos e por você passa um grupo de amigas.

Você pisca pra uma delas, abre um sorriso e levanta seu copo, como se oferecesse um brinde.

>> É flerte

Você está num bar com os amigos e por você passa um grupo de amigas.

Você entorta o pescoço na frente de todo mundo e fica secando a bunda das minas

>> É escroto.

– Você está num bar com os amigos e por você passa um grupo de amigas. Você segura na mão de uma delas e diz:

‘Aí siiim, heim? A gente também tá querendo uma festinha hoje. A gente tá em 3, vocês em 3. Cabe tudo no mesmo quarto.’

>> É assédio.

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Exemplo 5:

– Você trabalha como recepcionista num local em que precisa cadastrar contato de clientes. Uma cliente que te atrai chega, você faz o serviço e pergunta a ela:

‘Posso te mandar um e-mail não relacionado a trabalho depois que eu sair daqui?’

>> É flerte.

– Você trabalha como recepcionista num local em que precisa cadastrar contato de clientes. Uma cliente que te atrai chega, você faz o serviço, ela vai embora. Quando ela chega em casa, tem um e-mail seu pra ela:

‘Oi, linda, eu te atendi hoje. Mandando esse e-mail só pra te dizer que te achei linda.

>> É escroto / Já beirando o assédio.

– Você trabalha como recepcionista num local em que precisa cadastrar contato de clientes. Uma cliente que te atrai chega, você faz o serviço, ela vai embora. Quando ela chega em casa, tem um e-mail seu, um inbox seu, mensagem no Whats:

– Oi, delícia. Vem mais vezes comprar aqui com a gente. Mas vem linda do jeito que você veio hoje, tá?

>> É assédio

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Exemplo 6:

Você é professor de uma faculdade. Há uma aluna pela qual você realmente se interessa e você diz a ela em particular:

‘Se você estiver livre depois da aula da sexta, a gente pode assistir uns amigos tocar lá em São Paulo. Me parece que vc adora o tipo de som que rola lá.’

>> É flerte

Você é professor de uma faculdade. Há uma aluna pela qual você realmente se interessa e você diz pra ela na frente de vários outros alunos:

‘Se você estiver livre depois da aula da sexta, a gente pode assistir uns amigos tocarem lá em São Paulo. Me parece que vc adora o tipo de som que rola lá.’

>> É escroto

Você é professor de uma faculdade. Há uma aluna pela qual você realmente se interessa e você diz a ela:

‘Sei que sua nota tá baixa esse semestre, mas se você for comigo num show que vai rolar essa sexta-feira a gente pode negociar subir essa sua nota.’

>> É assédio

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O assédio poucas vezes tem relação com desejo. Ele é muito mais relacionado com poder.

O homem, cliente de um estabelecimento, sente-se poderoso, então ele acha OK falar coisas indevidas pra uma recepcionista.

O homem, cercado de amigos, sente-se poderoso, então ele acha OK pegar no braço de uma mulher desconhecida.

O homem, gerente numa empresa, sente-se poderoso, então ele acha OK constranger uma funcionária que acabou de chegar da academia.

O homem, professor de faculdade, sente-se poderoso por controlar as notas das pessoas, então ele acha OK ameaçar trocar notas por sexo.

Assédio é sobre poder e não sobre ímpetos masculinos. Numa sociedade em que a mulher equilibra seu poder social com o poder social do homem, a tendência natural é que o assédio diminua gradualmente e constantemente.

A saída para o assédio é apenas uma: mulheres no poder.

Mães e pais, criem suas filhas para serem poderosas.

Mulheres já crescidas: estudem o poder, vivam o poder, sejam o poder. Pois o homem não muda até encontrar alguém maior que ele. Daí ele cala a boca.

Sigam calando a boca de assediadores em todo o planeta. As meninas já nascidas e as que ainda estão por vir certamente serão imensamente grata por vocês no futuro.

E 2018 já é o futuro!

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Autor: Ailton Rodrigues

Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).