PRA QUEM CHEGOU AOS 30 

POR FÁBIO CHAP

Nesse 2017 eu fiz 30 anos. Se você está nessa fase da vida é contigo que eu quero conversar.
Lembra quando você tinha seus 11/12 anos de idade e começou a sentir uma mutação enorme no seu corpo e na sua cabeça? Fazer 30 anos é a mesma coisa. Com a diferença que agora os pelos não começam a crescer, começam a cair.

Quando estamos na pré-adolescência, do nada começamos a nos sentir mais do que de fato somos. Nos sentimos mais velhos, mais inteligentes, mais fodões só porque demos o primeiro beijo, entre outras coisas. E, olhando de longe, a gente sabe que um adolescente é a mesma coisa que uma criança crescida só que com voz de pato e pelo no sovaco.

Com 30 anos, pra muita gente, o efeito é o contrário. Alguns começam a se sentir menos do que realmente são. Se preocupam por ainda não estarem no tal ‘topo da carreira’, se preocupam por não terem encontrado alguém com quem vão passar o resto da vida, se preocupam demais.

Se tem uma palavra pra definir a crise dos 30 é: preocupação.

E isso é muito louco porque ao mesmo tempo em que nos preocupamos muito, lutamos pra ter uma vida mais leve, mais equilibrada, mais estável. É caótico memo.

Você que tá na fase dos 30, pensa agora em tudo que você alcançou até aqui e que não dependeu dos seus pais. Conquistas materiais, amorosas, espirituais, no trabalho. Não é pouca coisa, não!

Você é foda! E eu não quero levar esse texto pro lado da auto-ajuda, eu só quero constatar que você é, sim, foda. Não apenas sobreviveu 30 anos num mundo absolutamente cruel como, certamente, tem deixado marcas na vida de amigos, da família, dos seus amores. Você não está de passagem pela Terra. Você tá deixando o seu rastro.

Quando se tem 30 anos uma coisa é fato: você sabe se virar! O mundo pode desabar. Tudo que você planejou pode dar errado, mas você sabe se virar. Olha até onde você chegou: aos 30. Isso não é pouca coisa.

Nessa fase a gente deixa de pensar em academia apenas pra benefício estético. Pra chamar a atenção no rolê. A gente começa a pensar em malhar pra ter mais saúde. Olha que papo de velho: saúde. Mas é real. Essa é a fase em que a gente quer respirar melhor, muitos diminuem o álcool, o cigarro, as drogas. É o adolescente rebelde em nós ficando pra trás e nosso corpo entendendo que todo excesso será pago com uma ressaca de um nível que não existia aos 20.

Por falar do adolescente em nós, aos 30 ele vai embora de fato deixando só as boas lembranças. O trabalho deixa de ser aquela luta pra fazermos apenas o que queremos e passa a ser o que precisamos pra dar conta de viver. A importância da disciplina começa a ser redescoberta nessa fase. É nesse momento que, de fato, a gente começa mais a ouvir do que falar.

 Disciplina, inclusive quando se fala do coração. Foram tantos namoros, rolos e noites loucas, né? Tenho certeza que a sua experiência amorosa e sexual está no ápice. Você já sabe o suficiente sobre a paixão e o amor pra não errar tanto. Depois de tantas pessoas que passaram pela sua vida, você sabe exatamente o que te atrai. Você sabe exatamente o que não quer. Nessa fase a gente passa a ter mais controle sobre o coração e só deixamos pousá-lo onde haverá reciprocidade, onde haverá luz. E eu não estou querendo dizer com isso que aos 30 a gente encontra a princesa encantada. Estou dizendo que nessa fase diminui demais a chance de a gente fazer as merdas amorosas que fizemos com 20 e poucos simplesmente porque aprendemos muito com tudo que vivemos. Relacionamento bumerangue não nos satisfaz mais.

Aos 30 a gente se abre mais pra espiritualidade. Isso não significa que o povo começa a ir pra igreja. Significa que dormir em paz e acordar em paz é tão importante que a gente começa a filtrar melhor as energias no nosso entorno. As pessoas que só reclamam de tudo não são mais companhias tão frequentes. As brigas de família deixam de nos enfurecer e a gente simplesmente acostuma. Passamos a entender que os outros são diferentes, que vão buscar os próprios interesses e que, sem ser cuzão, devemos buscar os nossos também.

Outra coisa que a juventude loucura total não nos permite fazer, mas que aos 30 anos damos os primeiros passos é: planejar a vida. E executar o que planejamos. Fale com qualquer pessoa de 30 anos: é muito provável que essa pessoa adore listas. Listas organizam a vida e tudo que buscamos nessa etapa é organizar. É a fase em que passamos a falar sobre melhores maneiras de guardar dinheiro, investir dinheiro, fazer mais dinheiro. Porque o dinheiro só não é importante na sua vida se você é herdeira ou herdeiro. Não é o caso na maioria de nós.

E talvez essa coisa de pensarmos muito em organização seja um preparo inconsciente pro que vem pela frente. Muitos querem formar família, ter filhos, morar junto, etc. Mas ninguém quer fazer isso com a vida caótica. Quem sonha em ter família não sonha com crianças ramelentas chorando pedindo mamadeira e jogando nescau pro alto. A gente sonha com uma casinha que caibam todos de maneira confortável, uns quadrinho bonito na parede, umas plantas bem verdinhas, a geladeira cheia e a vida em paz, ou seja, a vida organizada.

A palavra organização é importante demais aos 30 anos, assim como saúde, amor, experiência, disciplina e paciência.

Estar aqui onde estamos não é fácil. Os boletos nos tiram o sono. 1 dia de atraso no aluguel já compromete o orçamento. Dormir todo dia sozinha/sozinho não é exatamente o sonho de todo mundo e isso traz sensações de solidão. Brigar se torna algo mais desgastante simplesmente porque a gente não é tão foda-se como no passado. Por esse exato motivo, a gente briga menos, se inflama menos e resiste mais.

Ter 30 anos é saber focar a vida no que nos mantém vivos, felizes, ativos, com a auto-estima elevada. Essa é a fase que as pessoas entendem que ‘se amar’ não é um conceito vazio. É a coisa mais importante que temos que fazer nessa vida.

E por isso mesmo, por nos amarmos mais, se tem algo que pega fogo aos 30 anos é a vida sexual. Se antes tínhamos pressa e curiosidade, agora temos intensidade e experiência. 

Se você teve a primeira vez com 15/16/17, já são 15 anos – ou quase – de vida sexual. E essa carga horária de cama ninguém nos tira. Nessa fase a língua não suga, ela dança. Nessa fase a gente sabe que pau e buceta são parte integrante do sexo, não ele todo. Sexo se torna toda uma experiência que começa no 1º whats do dia, que continua no jantar, que pega fogo com as provocações ao pé do ouvido. Aos 30 sexo deixa de ser penetração e se torna contexto, se torna uma história, se torna um delicioso jogo de horas e horas e horas.

Uma coisa que eu sempre penso/falo é que se eu puder escolher, quero morrer com 90 anos. Imagina só que foda podermos viver mais 2 vezes o que vivemos até agora e cada vez mais experientes? Seria demais. Os primeiros 30 anos de vida pra aprender demais, quebrar muito a cara. Os 30 anos seguintes pra executar os maiores trabalhos, obras e sonhos; criar a família mais linda. E dos 60 aos 90 viver pra curtir, sem nenhuma pressa, tudo que plantamos a vida inteira. Seria perfeito.

Lá em 1987 eu não sabia nada da vida. Tava começando a minha jornada. Eu não imaginava que seria uma jornada tão louca e tão linda. Tão difícil e tão emocionante.

Eu sobrevivi e isso me abre um sorrisão enorme na cara. Você também sobreviveu, sua linda, seu lindo. Espero, do fundo do coração, que agora você também tenha um sorrisão bem bobo estampado na cara.

Parabéns pra nós! Muitos anos de vida pra nós!

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Autor: Ailton Rodrigues

Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).