Cinco dias de debates, seminários e o melhor do audiovisual brasileiro aportaram em São Miguel do Gostoso em uma edição histórica com frequência de mais de 7 mil pessoas nas atividades.
Por Ailton Rodrigues

A 9ª edição da Mostra de Cinema de Gostoso (MCG) aconteceu dentre os últimos dias 04 a 08 de novembro na paradisíaca São Miguel do Gostoso/RN e trouxe consigo 23 obras de todas as regiões do Brasil que foram plano de fundo nas Sessões Panorama e Competitiva para debates e seminários com jornalistas e realizadores de todo o país.
Um levantamento realizado pela organização do evento estima que mais de 7 mil pessoas frequentaram as atividades. As sessões na Praia do Maceió tiveram lotação nas 600 espreguiçadeiras em todas as noites, além disso, a curadoria foi precisa ao trazer obras premiadas como Marte Um, selecionado brasileiro para disputar uma vaga no Oscar; o vencedor de 5 kikitos do Festival de Cinema de Gramado deste ano, Noites Alienígenas; Regra 34, que levou o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno; além de Mato Seco em Chamas que teve estreia no Festival de Berlim, dentre outros grandes filmes nacionais que tiveram repercussão por onde passaram.
Vencedores encantaram o público
A Filha do Palhaço dirigido por Pedro Diógenes se consagrou como maior vencedor da edição, levando tanto o Prêmio do Júri Popular como o da Crítica, feito só repetido por Pacarrete em 2018. Outra curiosidade foi que o diretor já havia vencido em Gostoso com Inferninho.
Noites Alienígenas de Sérgio de Carvalho levou Menção Honrosa, dentre os curtas Ela Mora Logo Ali de Rafael Rogante e Fabiano Barros venceu com o Júri Popular, já Ainda Restarão Robôs Nas Ruas do Interior Profundo de Guilherme Xavier Ribeiro venceu pela crítica, sendo o único da Região Sudeste a sair com troféu neste ano.
Temas como violência, intolerância e preconceito marcaram muitas das obras exibidas e ganharam repercussão nas ruas gostosenses. Nos debates, elementos como a interiorização do cinema e a descaracterização dos estereótipos também tiveram holofotes.
Esperança de dias melhores

Com todos esses números positivos, o clima na MCG foi de esperança. As eleições que haviam terminado uma semana antes e polarizaram o país foram debatidas e trouxeram a tona que o próximo governo tem maior possibilidade de investir no setor, inclusive recriando o Ministério da Cultura.
Uma grande coincidência foi que justamente durante o seminário sobre financiamento saiu a notícia da suspensão pela Ministra Carmem Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os efeitos da Medida Provisória assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) que adiava os pagamentos das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, que causou um grande alvoroço.
Seminário nível internacional

Raquel Bordin, 34 anos, trabalha no departamento editorial da ala internacional da Pixar, área responsável pelo marketing e pelas versões internacionais das produções, ela foi a responsável por fazer o seminário mais bombado da MCG 9.
Revelações de bastidores do seu trabalho e curiosidades sobre trailers e materiais de divulgação de obras gigantes como Luca, Red: Crescer é Uma Fera foram recebidos com entusiasmo pelos presentes. Além disso, Elemental, projeto que só será lançado em 2023, foi descrito por Raquel como surpreendente:
“Nunca vi nada igual, pois é um desafio apresentar como personagens os elementos básicos da natureza (…) Os criadores conseguiram um grande feito”, declara.
Ao falar sobre sua vida pessoal e os desafios que a fizeram chegar a um dos maiores estúdios de animação no mundo, ela disse que também pretende voltar futuramente ao Brasil:
“Gosto da visão romântica com que o cinema é visto no Brasil, muitas vezes como exemplo de resistência. Mas aprendi nos EUA que se trata de uma empresa e, portanto, é também preciso mirar o lucro. Meu desafio, assim, será conjugar o ideal com o prático”, diz.
Amadurecimento do Coletivo

O carro chefe da Mostra de Cinema de Gostoso se chama cursos de formação técnica em audiovisual, desde 2013 mais de 100 alunos experimentaram como a linguagem do cinema pode mudar vidas. Com a formação do Coletivo Nós do Audiovisual eles produziram 23 curtas metragens.
Na edição deste ano, foi mostrado ao público o curta Arrebentação sendo o maior drama exibido pelo coletivo desde Derradeiro (2018), onde uma família recém chegada a Gostoso enfrenta seus problemas pessoais em diferentes camadas, e o documentário Barraqueiros que buscou ilustrar a visão dos comerciantes que vivem do turismo na Praia de Tourinhos , mas que sofrem ameaças de deixar o local por uma resolução da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). O caso você acompanhou aqui no Contador.
Essa mescla entre os 30 alunos da nova turma e os veteranos deu liga comprovando que há amadurecimento na produção dos jovens. Além disso, os organizadores Eugênio Puppo e Matheus Sundfeld deixaram claro que os cursos são essenciais para o projeto:
“Não existe a Mostra se não existirem os cursos. Simples assim”, disse Eugênio Puppo ao G1.
E daqui para frente?

Em 2023 a MCG completa 10 anos. O Contador tem uma ligação com o projeto desde o início, afinal foi a partir do primeiro curta do Coletivo que nasceu o nome deste veículo de comunicação em 2014.
As projeções são de um crescimento ainda maior do evento, provavelmente com a internacionalização ainda maior da MCG e uma mescla de nostalgia por tudo o que foi desenvolvido ao longo dessas temporadas. O que se sabe é que o evento já assumiu lugar cativo no calendário nacional e termina 2022 consolidado.
“Queremos fazer uma edição especial, claro! Para o ano que vem, a ideia é que a tenda da mostra Panorama seja ainda mais incrível. Queremos melhorar isso, trocar as lonas das cadeiras, aprimorar ainda mais a iluminação, o palco. Para nós, crescer é dar esses avanços, esse aprimoramento. Queremos aumentar o número de seminários e trazer alguns convidados internacionais também, como curadores de grandes festivais. O grande barato é estar com a comunidade”, disse Puppo ao CineVitor.
Que venha a MCG 10, até qualquer hora!