OS DESAFIOS DA ADOÇÃO NO BRASIL

A adoção no Brasil enfrenta algumas problemáticas, e a burocracia não é a principal, pois, um dos maiores desafios está no perfil buscado pelos pretendentes.

Por Auxiliadora Ribeiro – São Miguel do Gostoso/RN

Fonte: Google Fotos

A burocracia tão falada na adoção, especificamente na demora do processo até se conseguir de fato adotar, não é a principal barreira como popularmente se pensa. Se observarmos os dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) é fácil perceber que a quantidade de pessoas dispostas a adotar é superior a quantidade de crianças disponíveis para a adoção.

Nesse contexto, a lista de crianças esperando por ter uma família deveria estar zerada, mas a realidade não é bem assim. Um dos principais desafios, é o perfil de crianças que os pretendentes buscam, tendo em vista que as crianças que estão disponíveis para serem adotadas, não se enquadram no perfil dos que se dizem dispostos a adotar. Sobre essa problemática, Mariana Lima (2019) escreve que a adoção no Brasil é uma busca por crianças que não existem.

Outro pano de fundo problemático é o pensamento dos que pretendem adotar. Muitos romantizam, ou por outro lado têm medo, mas a maternidade e a paternidade não são tarefa fácil, por que a adoção mudaria isso? A romantização dificulta a aceitação de que a maioria dos que estão aguardando por ter uma família, carregam traumas decorrente de uma família biológica desestruturada pelo álcool, por entorpecentes, e que muitos foram vítimas de violência física e psicológica.

A romantização, por tanto, é um depósito de expectativa que não condiz com a realidade, e pode atrapalhar no processo de adoção no que diz respeito, por exemplo, a devolução das crianças e adolescentes que estavam no estágio de convivência, o que gera grande frustação nesses seres, que de um outro modo passam novamente por um sentimento de rejeição.

O que nos leva a refletir é a questão de que se esses pretendentes que devolvem por não se identificar, entenderem que não se adaptaram, por exemplo, devolveriam seus filhos “biológicos” se estivessem encontrando dificuldades no convívio, na educação…?

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Nessa linha, outro desafio pode ser também o referido estágio de convivência, o qual a Lei determina que seja de 90 dias, podendo ser prorrogado. Nesse estágio, busca-se a criação de vínculos, e esse vínculo não se constrói de uma hora para outra, dependendo de múltiplos fatores tanto por parte dos adotantes, quanto por parte do adotado. Por isso, é preciso estar certo da decisão de adotar, e mais, das dificuldades naturais que é cuidar, educar, amar.

Ademais, é preciso superar o pensamento de qual seria o real sentido da adoção, que não é o de dar um filho a quem não tem, seja por não poder, ou por não querer pelos meios “naturais”, ou por qualquer que seja a motivação, mas sim, para dar uma família a crianças e adolescentes que não têm, e efetivar seu direito fundamental à Convivência Familiar previsto no art. 227 da Constituição Federal e no art. 4º do Estatuto da Criança e do adolescente (ECA).

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Se quiser conhecer mais sobre a adoção acesse o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento.

Até mais!

Autor: Auxiliadora Ribeiro

Técnica em Administração pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte - IFRN; Bacharelanda em Direito pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; membro da trupe teatral "Café com Leite".

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