O QUE OS “ESPECIALISTAS” DIZEM

POR FÁBIO CHAP

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Bora falar um pouco de realidade? Pois vamos lá.

Os ‘especialistas’ dirão que essa greve é errada, ‘coisa de gente que não entende nada’, coisa de ‘massa de manobra’. Que ‘o Brasil precisa dessas reformas ou vai quebrar’.

“Se não mexermos na aposentadoria agora, depois não reclamem quando o corte vier na saúde e na educação” é a frase clichê deles.

Perceba que eles não conseguem pensar nenhuma possibilidade pra além de descer o cacete no ombro do trabalhador. A mente deles – os especialistas – não é tão criativa assim, afinal, é o tipo de gente que, em sua maioria, nunca precisou se virar muito na vida, se reinventar pra continuar a sobreviver.

– Cobrarem as dívidas dos bancos e das megaempresas? Té parece, né?- Aumentar IPTU em bairro de elite? Nunca.

– Criar IPVA pra jatinho, helicóptero e iate? Acorda, mané.

– Fazer auditoria da dívida pública pra ver se tem ricasso ganhando mais do que devia? – Nem sonha com isso.

– Extinguir pensão de filha de militar? – Não, senhor.

– Diminuir benefícios de juiz, procurador e desembargador aposentado? – Não brinca com isso.

É melhor deixar essa gente em paz, entende?

Sempre que leio/ouço/assisto especialistas dizendo que ou se aprovam essas reformas ou o país quebra, eu penso:

– Será que esse cara já trabalhou, 6 meses que seja, empilhando tijolo?

– Será que essa mulher, quando tava grávida, trabalhou 1 semana que seja, num ambiente tóxico, sujo e perigoso?

– Será que esse senhor especialista já teve meia hora de almoço após trabalhar 4 horas seguidas de pé montando carros num chão de fábrica?

– Será que esse economista – que fala tão bem – já entregou panfleto no farol por um diazinho que seja?

É claro que não. Essa gente não passou nem meia semana num trabalho duro de verdade, que dirá 20/30/40 anos.

E esse é o mesmo tipo de gente que fala que ou o país aprova essas reformas, ou quebra. Simplesmente não conseguem perceber que, na vida real o que quebra mesmo é a coluna do peão, é a mão da costureira, é a perna do lixeiro, é o pulmão do pedreiro.

Especialista costuma ser aquele tipo de pessoa que liga pro seguro trocar o pneu do carro que é pra não ter que botar a mão no macaco e numas gotinhas de graxa e óleo. Essa é a gente que é incapaz de passar uma bucha na própria privada, de retirar os papel sujo com a própria merda do cesto de lixo. Pra resolver isso, constroem um quartinho nos fundos e dão o celular usado pra empregada.

Como levá-los a sério quando são eles que querem dizer o que o trabalhador aguenta ou não por 20/30/40 anos?

E essa não é necessariamente uma crítica às pessoas que nunca fizeram trabalho braçal. Tem muita gente que nunca teve trabalho do tipo e consegue se solidarizar com quem o faz. Consegue respeitar a tristeza e a revolta de quem tem pouco e vai ter menos ainda. Esse texto é um desabafo, uma crítica à uma elite sabida de tudo, mas, no fundo no fundo, o que eles sabem mesmo é fazer de tudo pra que, no fim, eles não percam nada. E a gente, que trabalha e rala, que se foda.

517 anos se passaram e a gente segue no mesmo sufoco enquanto eles brindam à vida deles e decidem a nossa.

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Autor: Ailton Rodrigues

Técnico em Informática (IFRN), que adora esportes e jornalismo, estando sempre disponível para bons papos. Coordenador de Comunicação do clube de futebol TEC (Tabua Esporte Clube), membro do Conselho do Coletivo de Direitos Humanos, Ecologia, Cultura e Cidadania (CDHEC), comunicador da Mostra de Cinema de Gostoso. Formado em Pedagogia (UFRN).