Campanha alcança o 24º dia com troca de acusações e roteiro digno de Sessão da Tarde. Histórias ganham dimensão com redes sociais e perfis criados inflamam população.
Por Ailton Rodrigues

A campanha política de interior geralmente causa um alvoroço natural, mas há situações em que aparece um ponto fora da curva e isso no mínimo deveria ser debatido. A torcida organizada de laranja e azul poderia até ser prevista, mas estávamos preparados para o bombardeio de narrativas criadas?
As situações colocadas nos últimos dias ganharam proporções que extrapolaram as redes sociais e virou quase uma briga de galo para ver quem tem mais argumentos. Deve até ter tido outros casos, mas um bem emblemático que sintetiza isso é o da professora que foi filmada em duas situações no mínimo vexatórias.
No primeiro momento ela é recepcionada na sua própria casa por apoiadores de um candidato que arrancam um adesivo do adversário da sua parede e comemoram o feito aos gritos. Em um segundo momento, mais tarde, ela atende o mesmo candidato cujo adesivo foi arrancado, deixa-se ser filmada e no vídeo expõe qual suas opções de voto para prefeito e vereador.
Mesmo todos os atos teoricamente terem sido consentidos por esta mulher. Reflitam se o conjunto desses acontecimentos no mínimo não foram patéticos. A campanha seguiu esse roteiro.
Data-Comício
Outro ponto alto são os comícios. Sempre defendi que eles são um desperdício de dinheiro, mas em 2024 eles ganharam um plus. Além de serem regados a (muito) álcool, eles viraram parâmetro de uma espécie de pesquisa eleitoral, onde as fotos expostas nas redes sociais medem o número de votos: é o instituto Data-Comício.
Imagens de drone, os ângulos das fotos de cima do palco e até o número de pessoas no ônibus são fatores de medição. Tanto faz o que cada um dos candidatos esteja falando de cima do palco, não se guarda nada, são palavras ao vento, especialmente quando se prevê o início do evento às 19h e o término à 1h.
Guerra de narrativas
Mesmo com o caso citado acima, as narrativas empregadas pelas torcidas organizadas são ferramentas que buscam manchar a reputação ou carreira do adversário. Nesse ano já tivemos o caso dos caixões onde foi divulgado que uma licitação de mais de 800 mil reais foi destinada a compra de urnas funerárias. O caso foi explicado pelo Secretário de Assistência Social, Paulo Cesar Martiniano, mas não impediu que maquetes de caixões invadissem as ruas.
No último final de semana, também viralizou um recorte de fala de um vereador onde ele alega que a administração atual deveria “continuar no inferno”. A fala foi altamente repercutida com o tom religioso que também roubou os holofotes nessa campanha. Só para se ter uma noção apurei que apenas entre os dois comícios que aconteceram no distrito do Antônio Conselheiro os termos Deus e Senhor foram citados 68 vezes.
Atenção: o dado não é algo para ser positivo ou negativo, trouxe ele para refletirmos que há um interesse claríssimo nos votos da classe religiosa, o que é até normal, visto que as duas chapas desse pleito são de direita. As últimas eleições presidenciais também demonstraram isso.
Podemos destacar também aqui nas narrativas as apostas, os relatos de agressões físicas cujo cunho tenha sido político… Se tudo isso não beirar o escárnio, eu não tenho outra palavra para definir.
Não sei o que esperar dessa reta final, acho que os inflamados apoiadores esqueceram que após a campanha os mesmos problemas estão aí para serem resolvidos. O gestor que ganhar deve lembrar que o município é um só, não dois.
Nós continuamos de olho.
